A ONÇA PINTADA
(Zé Caetano – o contador de histórias)
Marcos Jardim ___________________________________________________________________________________
A televisão chegou acabando com as “bolandeiras” noturnas.
Ali, avizinhança reunia-se para passar a limpo a vida preguiçosa .
Lembro-me de uma delas, em frente à residência de Adonias, no Alto da Usina.
Eu era fã das histórias contatadas por Zé Caetano. Admirava o “jeito desleixado” dele contar os causos.
Tem a história do caçador de onça pintada queele incrementou da seguinte forma:
“Quando eu morava no sul, o bicho que tinha mais no terreiro lá de casa era a onça-pintada.”
Zé Caetano olhava de lado. Fazia uma longa pausa, cuspia a gorda de fumo, e avaliava se a “audiência” era suficiente para que ele encompridasse mais o relato.
“Eu vivia da venda de couro da bicha. Naqueles tempos, couro de onça não tinha muito valor, mas era um serviço maneiro”.
“Aprendi a tirar o couro sem judiar muito da danada. Fazia o trabalho todo usando apenas um canivete.
Eu pegava a onça no descuido.
Era assim: eu provocava a onça com uma vara curta, e na hora que ela armava o bote, eu pulava na ligeireza e peava as duas patas dianteiras dela. Depois que ela cansava de estrebuchar, agarrava a pintada pelas orelhas e só soltava depois que tava com o couro inteiriço na mão”.
Zé Caetano fazia mais uma pausa... tirava um canivete do bolso da camisa, pegava um bocado de fumo no bolso da calça e cortava um pedaço.
Depois de colocar a “péia” na boca, continuava falando ao mesmo tempo em que guardava os apetrechos numa demora infinita.
“A bichana dava cada miau que fazia medo”.
Zé dava outra cuspida, se ajeitando no tamborete e completava:
“Quando terminava o serviço, soltava a onça que saia correndo em carne viva.
Dois ou três meses depois, ela voltava com uma pele nova que dava gosto!.”
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