Em Jardim do Seridó, na década de 1980 e início da década de 1990, era tradição durante os carnavais os blocos saírem com suas batucadas formadas por instrumentos de bateria como taróis, surdos e treme-terras, repiques, agogôs, reco-recos e tamborins, executando sambas pelas ruas da cidade, e durante as paradas, conhecidas popularmente por “assaltos” nas casas de integrantes desses blocos carnavalescos para comerem petiscos e lanches, esses foliões costumavam executarem e também cantarem sambas populares como forma de diversão durante o período momesco.
Entre esses foliões estavam Edjanir Ramos de Azevedo que pertencia ao bloco carnavalesco “Desocupados” e Aldeniz Araújo de Azevedo, que naquele momento pertencia, juntamente com Edjanir do bloco: Desocupados. Este último, que já há algum tempo alimentava a idéia de criar um grupo de samba na cidade de Jardim do Seridó/RN e Aldeniz, que devido ser puxador de samba durante os carnavais em momentos como os tradicionais “assaltos”, dispunha de um repertório composto de músicas de samba, possuíam dentre outras, duas características em comum: o gosto pelo samba de raiz e a disposição em não só escutar, mas também em produzir o referido estilo musical.
Em determinada oportunidade no ano de 1992, os jovens amigos, Aldeniz e Edjanir estavam no “Bar o Canal”, conhecido popularmente por “Bar de Corrinha” – em referência a um dos proprietários, conhecido popularmente por “Corrinha” e dentre os assuntos discutidos durante aquele momento de lazer, surgiu por parte de Edjanir, a idéia de criarem um grupo de samba em Jardim do Seridó/RN.
Essa idéia tinha sido antes alimentada por Edjanir, só que essas iniciativas foram frustradas devido há motivos não especificados, mas naquele momento, a idéia foi aceita com entusiasmo pelo amigo Aldeniz, que ao lado do primeiro, começaram a planejar os planos o desenvolvimento daquela iniciativa.
Pouco tempo depois, Aldeniz e Edjanir deram início aos ensaios – na casa de Edjanir, localizado à rua Joaquim Patúcio, nº 50, bairro Esplanada - Aldeniz cantando o seu vasto repertório de samba e executando o instrumento de percussão conhecido como tambora, e Edjanir tocando cavaquinho. Durante a realização dos ensaios, sentiu-se a necessidade da inserção de um violão, com isso, Aldeniz convidou o amigo (e violonista) Denilson Félix Aragão, conhecido como “Neném de Aragão” para fazer parte do grupo de samba. O jovem violonista Neném de Aragão aceitou prontamente o convite de Aldeniz, e uniu-se aos dois amigos naquela iniciativa musical.
Assim, Edjanir (cavaquinho), Aldeniz (voz e tambora) e Neném de Aragão (voz e violão), passaram a ensaiar as músicas que a cada dia enriquecia mais o repertório de samba. Todavia, devido principalmente ao ingresso de Neném de Aragão na Fundação Francisco Mascarenhas, a FIP- Faculdades Integradas de Patos, localizada no vizinho estado da Paraíba, o mesmo teve que abandonar o grupo. Para suprir a perda do violonista, os dois amigos tiveram a idéia de convidar o também violonista Itamar Santos da Silva para se unir ao grupo, o qual aceitando o convite passou a integrar àquele conjunto musical que viria a se chamar “Roda de Samba: Samba Só”.
Posteriormente, a convite do primo e amigo Itamar, José Araújo de Medeiros, mais conhecido como “Zé Araújo” passa a fazer parte da roda de samba como cantor e pandeirista.
No seu local de trabalho, na Indústria e Comércio Medeiros/SA, Zé Araújo, entusiasmado com as reuniões dos amigos que se encontravam durante algumas noites por semana para se divertirem “tomando umas”, tocando e cantando sambas, falava com o seu amigo e colega de trabalho Gilberto Valdeger de Azevedo, conhecido popularmente por Betão, que também era músico (baixista), como eram divertidos e instigantes aqueles ensaios, suscitando assim em Betão o desejo de participar daqueles encontros musicais com os amigos e conhecidos na residência de Edjanir. Desta forma, ao externar o interesse e a disponibilidade em fazer parte do grupo musical, Betão torna-se o baixista, daquela roda de samba.
Outro amigo do jovem Edjanir, chamado Marcos Antônio do Nascimento, que trabalhava em uma marcenaria de propriedade do Senhor José Alexandre e que também consertava instrumentos de percussão, foi convidado pelo mesmo para integrar o grupo executando instrumentos de tal característica, o qual aceitando o convite, completa o sexteto musical que passaria a se chamar “Roda de Samba Samba Só”, juntamente com um amigo e colega de trabalho (Correios) de Edjanir que tinha por apelido “Nêgo Lira” que contribuiu significativamente para o desenvolvimento do grupo musical com a aquisição de equipamentos e instrumentos musicais.
A partir daí, os amigos Edjanir, Itamar (in memorian), Aldeniz, Betão, Zé Araújo e Marcos, juntamente com Nego Lira passaram a se reunir aos finais de semana e/ou dias da semana combinados antecipadamente, a princípio, na casa do integrante Edjanir e posteriormente na residência dos demais componentes, para se divertirem “tomando umas” ao som do samba, inicialmente, sem qualquer vínculo. Aliás, durante esse período, o único compromisso que existia entre esses jovens era o comparecimento ao encontro dos amigos músicos nos ensaios, sendo estes encontros fundamentais para o estreitamento dos laços amistosos e contribuindo com o passar do tempo para a consolidação de uma relação fraterna entre os mesmos.
Quanto ao repertório inicial, foram selecionadas inicialmente, músicas de tradicionais compositores/grupos de samba como: Demônios da Garoa – considerado como maior influência musical para o Samba Só - Agepê, Martinho da Vila, Alcione, e outros músicos que faziam sucesso nas rádios e programas de TV, e no transcorrer do tempo, foram acrescentadas no repertório supracitado, obras de Zeca Pagodinho, Grupo Raça, Raça Negra dentre outros. Tal critério na escolha das músicas passa a caracterizar paulatinamente a qualidade e a essência do estilo musical produzido por àqueles amigos nas horas de lazer.
Como resultado do entrosamento e desenvolvimento musical dos jovens amigos, alguns indivíduos passaram a incentivar a profissionalização do grupo de samba. Tal afirmação pode ser percebida em alguns depoimentos de pessoas que admiravam aquele conjunto musical, depoimentos esses que foram preservados na memória de músicos como Adeniz quando lembra das palavras do pai do baixista Betão, conhecido popularmente “Chiquinho de Chagas”, considerado como apreciador e entendedor da música popular brasileira: “Tenho na minha mente até hoje o que ele [Chiquinho de Chagas] disse, [quando] a gente [estava] cantando uma vez lá no bar dele: ‘O canto (lugar) de vocês é no palco.’”
Assim sendo, a partir daquele momento, aqueles amigos que antes se reuniam para produzirem sambas como forma de lazer, passam a iniciar sua trajetória artístico musical apresentando o seu trabalho e seu repertório para o público geral, surgindo assim o grupo Samba Só.
Depois da primeira apresentação, realizada no “Bar de Botia”, o Samba Só obteve uma aceitação considerável por parte do público que prestigiou a sua estréia, despertando com isso, o interesse de produtores culturais locais e contratantes em geral, que os convidavam e os contratavam quase todos finais de semana para tocarem naquela cidade.
A repercussão causada pelo Grupo Samba Só também despertou o interesse não só em Jardim do Seridó/RN, mas também em outras cidades do estado do Rio Grande do Norte e da Paraíba durante a sua história, ampliando o número de urbes em que se apresentavam como por exemplo: Acari/RN, Brejo do Cruz/PB, Caicó/RN, Carnaúba dos Dantas/RN, Cruzeta/RN, Cuité/PB, Currais Novos/RN, Equador/RN, Florânia/RN, Jucurutu/RN, Ouro Branco/RN, Parelhas/RN, Patos/PB, Pombal/PB, Santa Cruz/RN, São João do Sabuji/RN, São José do Sabuji/PB, São José do Seridó/RN, São Vicente/RN, Serra Negra/RN, Natal/RN, dentre muitas outras. Destacaram-se nesse período, as apresentações realizadas em algumas oportunidades no “Bar Amarelinho” na praia de Pirangi, no município de Parnamirim/RN, de propriedade do Sr. Luiz Dantas e no “Bar do Rio” no Natal Tur também em Pirangi/RN, estabelecimentos nos quais, o público era formado por turistas de diversas nacionalidades.
Com o crescente número de apresentações realizadas pelo Samba Só, conseqüentemente, outros músicos passaram a almejar o seu ingresso no grupo musical supracitado. Desta maneira, conforme as necessidades surgiam com o passar do tempo, como por exemplo, quando precisava de um tecladista ou baterista, o sexteto convidava um músico e em alguns momentos contratava-o – de acordo com as condições financeiras da roda de samba – em Jardim do Seridó/RN ou em cidades circunvizinhas. Assim, desde sua fundação, já passaram e/ou fizeram parte do Samba Só os músicos: Nego Aldo (instrumentos de percussão), Nego Lira (instrumentos de percussão), Alan (teclado), Dió (instrumentos de percussão), Parcélio (teclado), Dedé de Maria (instrumentos de percussão), Flávio (instrumentos de percussão) e Frank (bateria). Atualmente, a formação do Samba Só é composta por: Gilberto Valdeger de Azevedo, conhecido pelo apelido de Betão (voz e contrabaixo), Denilson Félix Aragão, conhecido pelo apelido de Neném de Aragão (voz e violão), José
Araújo de Medeiros, conhecido pelo apelido de Zé Araújo (voz e pandeiro), Edjanir Ramos de Azevedo (cavaquinho), Adeniz Araújo de Azevedo (voz e tambôra), Marcos Antônio do Nascimento (percussão), Antônio Felizardo dos Santos (percussão), José Ivanaldo Silva – (flaura transversal) e Cristóvão (teclado).
Desde então o Samba Só realizou diversas apresentações, animando tardes de sol, domingueiras, carnavais, datas comemorativas, festas de padroeira etc., em todo Seridó, assim como em outras cidades do estado do Rio Grande do Norte, nunca fugindo do seu estilo musical, sempre escolhendo através de um criterioso processo de seleção, as músicas acrescentadas ao seu vasto repertório, contemplando renomados compositores da música nacional e também pratas da casa, como é o caso do grande sucesso: Exaltação a Jardim, uma composição do jardinense José Santos de Oliveira, conhecido popularmente como “Gonzaga” que é considerado por muitos como um dos hinos da cidade de Jardim do Seridó/RN.
Há algum tempo o Samba Só teve a idéia de criar um projeto social voltado para o público idoso em cidades do Seridó. A iniciativa consiste em realizar apresentações musicais nos abrigos dispensários da referida região, sem cobrar cachê, tendo a entidade apenas que custear a despesa do transporte dos equipamentos e músicos, transparecendo desta forma, o espírito de cidadania, vontade e disposição em contribuir socialmente e culturalmente com o próximo.
Atualmente, apesar do pouco tempo disponível, devido às obrigações de seus integrantes como trabalho, família e outros afazeres, o grupo Samba Só encontra-se atuante, realizando suas apresentações quando convidados nos mais diversos eventos culturais, e sempre quando possível, se reunindo aos finais de semana para “tomar umas” e se divertirem executando sambas como no início de sua trajetória, com a diferença de que se antes eram apenas amigos, hoje são pais de família, compadres e irmãos, que fazem do samba e da união entre os mesmos, a força motriz geradora do sentimento e da certeza de que a música é sim um alimento da alma.
Texto: Antônio Júnior (Junhão)
Fonte:
DANTAS JÚNIOR, Antônio Ferreira. E Haja Samba... Histórias e Memórias do Samba Só de Jardim do Seridó. Caicó: FIP. 2011 . (Artigo Científico/Historiográfico)
Texto: Antônio Júnior (Junhão)
Fonte:
DANTAS JÚNIOR, Antônio Ferreira. E Haja Samba... Histórias e Memórias do Samba Só de Jardim do Seridó. Caicó: FIP. 2011 . (Artigo Científico/Historiográfico)
Parabéns a você Junhão pela bela matéria sobre esse grupo que eu considero um dos melhores em seu estilo. Já se passaram 20 anos mas parece que foi ontem a estréia desses meninos. eu acho que o segredo nunca revelado por eles é a união dessa turma. Parabéns a todos.
ResponderExcluirFoi em cima de toda esta história levantada por Junhão que fizemos o DVD do documentário do Samba Só que será lançado em Junho de 2012, parabens a todos pelo sucesso.
ResponderExcluirFalar do Samba Só é facil, dificil é entender porque falta tanto apoio a esta truma.
ResponderExcluirConheço esta moçada de longas datas e vejo a luta deles, para manter vivo este sonho antigo.
Parabéns a todos e em especial ao meu amigo Edijanir, que mesmo sem ter conseguido chegar a lua, a bordo do seu foguete, teve a brilhante ideia de fundar este maravilhoso grupo, que onde canta, enaltece nosso querido Jardim.
Com ou sem apoio, esse "Magote de Feras", onde canta faz bonito e eleva a moral do nosso Jardim.
ResponderExcluirParabéns pela matéria e vamos aguardar o DVD do documentário.
Domingo, 01 de abril, O Samba-Só se apresentará no BNB Clube, Apartir das 14:00Hs. estejam todos convidados!
ResponderExcluirEsse grupo de amigos só merece aplausos fervorosos de todos os jardinenses. Parabéns a todos que compõe a banda.
ResponderExcluirAécio Medeiros - Natal RN
Neste grupo, só tem Fera.
ResponderExcluirEste Samba Só é demais...